quinta-feira, 4 de outubro de 2012

Comunicado

O direito de manifestação é legítimo e saudável em Democracia, e por alguma razão emergem protestos em diversas cidades portuguesas (e estrangeiras), em datas simultâneas ou não, expressando a indignação da população com o actual estado do país e com as opções e os modelos políticos, económicos e sociais globais. Todavia, os subscritores do protesto "Que se lixe a troika! Queremos as nossas Vidas!" não podem nem querem, à partida, envolver-se em todos os eventos que sob esse lema são criados, manifestando desde já legítimas reservas ao carácter nacionalista extremado, e até xenófobo em certos detalhes, de algumas convocações.

Descartamos qualquer intervenção nossa em protestos de que esteja ausente uma denúncia internacional da crise actual e dos seus responsáveis sob esse enquadramento mais amplo, antes baseando-se tão-só num processo de criminalização cega da classe política, sem qualquer reflexão ou ponderação, exponenciando um clima de "caça ás bruxas" que não podemos aceitar. Não concordamos com esta forma de "populismo" que, embora decorra de uma indignação genuína e até de uma ira colectiva legítima contra muitos responsáveis governativos, assume formas de actuação não-democrática que não subscrevemos.

Porque há protestos a ser lançados nas redes sociais como estando associado à manifestação de 15 de setembro e à concentração de 21, em Belém, de que fomos promotores e promotoras, não podemos deixar de nos pronunciar sobre este assunto. Se não for divulgado nos nossos canais, nomeadamente na nossa página de facebook e no nosso blogue , não se trata de um protesto em que tenhamos responsabilidade.

A luta e a resistência podem e devem prosseguir, mas exprimindo claramente as motivações que nos levam a protestar e a pensar. O problema da crise actual não decorre apenas deste ou daquele governante em particular, mas sim de modelos de governação e de subordinação aos mercados financeiros e às políticas neo-liberais selvagens, nacional e internacionalmente promovidas, que insistem em impor austeridade, empobrecer os países, cercear direitos e limitar a democracia.


Assinado por: Ana Nicolau, Belandina Vaz, Bruno Neto, Frederico Aleixo, Joana Manuel, Luís Bernardo, Magda Alves, Magdala Gusmão, Marco Marques, Margarida Vale do Gato, Mariana Avelãs, Myriam Zaluar, Nuno Ramos de Almeida, Paula Marques, Paulo Raposo, Ricardo Morte, Rita Veloso, Rui Franco