quarta-feira, 27 de fevereiro de 2013

Texto de Sara Gonçalves


CADA SEGUNDO CONTA, CADA TEMPO É VIDA, CADA ESCOLHA É DECISÃO

Qual é a atitude que mais estimo na vida? A honestidade. A honestidade nas conversas, no amor, no trabalho, nas compras, no condomínio, no autocarro, nos balcões das finanças, na política. A honestidade determina o nosso comportamento, configurando-se em ética.
É preciso coragem para a pôr em prática todos os dias e estar muito atento às armadilhas constantes que a nossa sociedade, pelo modo como está construída, nos coloca à frente dos pés em momentos que parecem inócuos, mas arrastando-nos para pequenas traições pessoais sem darmos conta. Muitas vezes as relevamos com um simples encolher de ombros, fazendo do que se passa com todos a desculpa pela ínfima parte que nos cabe. Quando o fazemos, não nos estamos a dar o devido valor, descaracterizando a nossa individualidade a uma série de produção mecânica, onde não cabe a natureza diferencial, em que cada um de nós contém em si a responsabilidade da sua acção diária, que se transforma em atitudes mais ou menos conscientes, e cuja força se reflecte em toda uma sociedade. Cada gesto nosso se repercute em todos com uma importância maior do que a que pensamos, porque somos pessoas e as reacções são feitas de maneira diferente da dos processos mecânicos ou simplesmente biológicos. Somos seres pensantes e sensitivos, com lógicas racionais, intuitivas e afectivas.
Para além da coragem, é preciso também clareza de pensamento e saber prever as consequências de cada atitude que tomamos, intuindo o caminho que iniciamos e reflectindo nele o que desejamos.
Eu exijo-me esta atenção no meu quotidiano e mereço dos outros esta responsabilidade de escolher a atitude que engloba o respeito por si e pelos outros. Para além de mim, exijo isso aos políticos, como em cada condutor de autocarro, como ao cidadão comum, que faz da correria a sua vida, como à avó que cuida da sua neta. É preciso cuidar, cuidar de si e dos outros sem o paternalismo e julgamento dos anseios íntimos e dos fantasmas privados, acolhendo simplesmente a diversidade de espectros de escolhas que faz de cada cidadão pessoa, e da diversificação de universos que faz de grupos de pessoas sociedades, países, continentes, o mundo e a humanidade.
É o poder consciente das nossas escolhas que nos faz ser adultos e emancipados, inteiros e plenos, harmoniosos e felizes. Porque está nas nossas mãos a possibilidade de enunciar o tempo da nossa felicidade!
Eu quero viver, ter uma família, realizar-me na minha vocação, contribuir para uma sociedade com o meu tempo, saber, dúvidas, desejos e coragens. Gostaria de abraçar o mundo com a disponibilidade de um coração inteiro, tendo sempre um sorriso à senhora que me serve o café na padaria da minha rua ou a reacção atempada de fazer parar a corrida de uma criança de três anos que corre para a estrada distraída na finta de uma bola. Gostaria de viver plenamente o poder de reivindicar uma ideia, de construir através de críticas e sugestões, projectos e espectáculos de teatro, de facilitar encontros familiares e convívios, como participar em conversas e debates, e a todas as minhas palavras dar-lhes o melhor uso possível, aliadas ao meu coração e à minha capacidade de ser honesta com ele e com os meus pensamentos que dele têm origem.
Gostaria que todos tivéssemos tempo para sentir e reflectir, para amar e para nos expressarmos com as emoções, e dos sentimentos fazer os planos de uma festa ou de um projecto de vida. Tempo para, em cada decisão, escolhermos a vida que queremos ser e que queremos viver.
Para poder ser mãe, para ter a possibilidade de dar netos aos meus pais e dos meus filhos terem os avós que eu, por fatalidades antecipadas, não tive. Porque quando a natureza tem razões que não explicamos, aceitamos a vida que nos é deixada, mas porque a política são os Homens que a fazem, não permito que me retirem a possibilidade de viver a vida com a intensidade dos desejos ao alcance da força dos meus braços!
Por isso, vou para a rua gritar, dizendo que não deixo que me tomem a vida dos filhos que ainda não tenho nos braços, que me arranquem do coração a paixão dos meus sonhos, que anulem o sorriso do fim de vida dos meus pais.
Por isso, dia 2 Março estou na rua. E não só!
Não estarei apenas na rua e sei também que não estou sozinha.
Porque queremos muito gozar as nossas infâncias, juventudes e velhices, vamos felizes e inteiros, de peito aberto e cheios de coragem enfrentar o que bloqueia o caminho das nossas vidas!
Que se lixe a troika, queremos as nossas vidas e o povo é quem mais ordena!