Que se lixe a troika! Não há becos sem saída!
Não posso ficar quieta nem calada. Dia 26 vou do Rossio a S. Bento.Tenho 53 anos e lembro-me de um tempo em que o medo ocupava um espaço importante dentro das pessoas que eu conhecia; lembro-me, também, que a raiva e a revolta, às vezes, ganhavam ao medo e criavam situações de esperança. E lembro-me do medo que senti ao aperceber-me – já mesmo na fase final do tempo do medo, mas sem saber que este tempo ia acabar – que não se desiste da dignidade por medo do medo.
Pouco tempo depois, foi o 25 de abril de 1974 e, com ele, começou um tempo em tudo diferente. Já não nos escondíamos para pensar, não faziam sentido os sussurros, a TV falava do mundo e as linhas telefónicas deixaram de ser escutadas. Construíamos o nosso caminho com as opções que fazíamos e deixámos de ser fantoches por ignorância, medo ou impotência.
Sabendo de muita gente que sacrificou a sua vida e o seu bem estar por querer apenas as possibilidades que então tivemos, dou valor à liberdade e à democracia. Sabendo de gente que foi presa no tempo do medo, não posso ficar quieta e calada quando se negam tratamentos a doentes terminais por serem caros ou se transforma a escola de todos/as na escola de pobres ou se ignoram as pessoas com deficiência ou se culpabilizam desempregados/as pela sua miséria ou se instaura a precariedade como a normalidade no trabalho ou se diaboliza a despesa social com a velhice ou se salvam bancos enquanto se matam pessoas. Ou quando o medo regressa. Ou. Ou. Ou. Teria vergonha de ficar quieta e calada.
Isabel Louçã