Nunca acreditei no Fim da História. Nunca acreditei que existe um estádio terreno cuja meta, sendo alcançada, nos dispensa de pousar o livro e a caneta e viver o resto dos nossos dias de acordo com uma consciência amorfa e submissa. Tão pouco posso acreditar que me digam que para um determinado problema, existe uma solução. Uma solução? Ia julgar que existiam várias, no mesmo nú
mero de visões que encerra a experiência humana. Este é o ponto de partida que me leva à manifestação no dia 15 de Setembro: acredito que as minhas acções determinam a minha existência e o rumo dos acontecimentos. As minhas e as dos/as outros/as.
Não acredito, portanto, na inevitabilidade da Troika, assim como não acredito na marcha inexorável do neoliberalismo económico. Acredito sim que é impossível ficar sentado no sofá quando nos querem diminuir em direitos conquanto nos exigem todos os deveres e mais alguns. Acredito ainda que não podemos tentar sobreviver sozinhos/as e atomizados/as do mundo quando a realidade é dura de mais para ser negada. A nossa consciência, principalmente em sociedade, também necessita de outras para exprimir a nossa identidade. Talvez não partilhemos as mesmas relações com a sociedade, mas a verdade é só uma: somos oprimidos/as, o que varia é apenas o contexto em que essa opressão é exercida.
São oprimidos/as todos/as os/as jovens que estão a ser alvo de uma política elitista que quer mercantantilizar todo o ensino, retirar apoios sociais e condenar toda uma geração a seguir forçosamente para um mercado de trabalho onde a precariedade e a mão-de-obra barata fazem parte da estratégia da Troika para Portugal competir economicamente no contexto externo.
São oprimidos/as todos/as os/as imigrantes, vítimas de intrumentalização através da sua marginalização e clandestinidade para que possam ser explorados sem que possam reivindicar os seus direitos. Para não falar que os seus contributos para a sociedade têm como recompensa a desigualdade de direitos como o acesso à documentação, a certas prestações sociais como o RSI ou a omissão do direito de voto nas legislativas. Nenhum humano é ilegal e todos somos cidadãos íntegros desde que gozemos desse título com todo o esplendor.
Somos todos/as oprimidos/as porque pelo menos conhecemos um/a desempregado/a, um/a trabalhador/a precário/a, um/a professor/a despedido/a ou alguém atingido pelos cortes na saúde, educação, ou qualquer outra área.
A solução? Esta passa pelo aumento do rating da vida de todas as pessoas que não merecem ser um joguete nas mãos dos mercados, passa por reduzir o défice de participação cívica, proceder a reformas estruturais de mentalidade e, por fim, saldar a dívida para com as futuras gerações que têm o direito a sonhar com uma outra sociedade. Não existe fim da História e os próximos capítulos serão escritos por aqueles e aquelas que não se renderam à rotina e assumiram a sua existência e tiveram a coragem de fazer algo extraordinário.
FREDERICO ALEIXO - Licenciado e Desempregado (um dos 15%). Membro da SOS Racismo