Andamos afónicos de tanto gritar «basta!». Os nossos governantes ignoram-nos, fingem não nos ouvir, enquanto trocam sorrisos com os amigalhaços a quem oferecem todas as regalias e privilégios.
Em Portugal e por toda a parte, em poucos meses destruíram direitos que levaram séculos a conquistar e que custaram a tantos homens e mulheres como nós, no mundo inteiro, anos de prisão, tortu
ra, por vezes a própria vida. O direito a uma vida condigna, a um salário justo, o direito a partilhar e usufruir da riqueza gerada pelo nosso trabalho, neste mundo que ajudamos a construir todos os dias, o direito à Saúde, à Educação e à Cultura.
As nossas contribuições através dos descontos para a Segurança Social e do IRS são tratadas como impostos feudais, que pagamos aos grandes senhores donos do mundo pelo atrevimento de existirmos, e não como contributos para a construção de um Estado mais justo. Desprezam e desprestigiam o sistema democrático, esquecendo – ou fingindo esquecer – que são eleitos pelo povo para o representar e para defender os seus direitos na gestão dos bens públicos em proveito de todos; em vez disso vendem o país ao desbarato.
Não! O Estado somos todos nós e os bens do Estado são nossos!
Não estamos à venda, nem aceitamos que nos roubem em nome de uma dívida que não contraímos. Insistem em atribuir nos as culpas, como quem responsabiliza a criança que gastou o troco em rebuçados pela falta de dinheiro para a renda da casa. Fazem tábua rasa das quantias exorbitantes que, ao longo de anos, sacaram ao Estado e ofereceram aos amigos nos grandes grupos financeiros, em recapitalizações, privatizações a pataco e pretensas parcerias público-privadas; nas mesas de jogo dos mercados internacionais, os comparsas especulam sem pudor, arriscando desplicentemente os destinos dos povos.
Não! Não aceitamos agiotas que jogam as nossas vidas a feijões!
Para alimentar a besta, sugam até ao tutano quem trabalha, humilham e condenam a uma dura subsistência reformados que ao fim de tantos anos de trabalho e contribuições merecem gozar a vida e beneficiar da riqueza que ajudaram a acumular, destroem o futuro das novas gerações, condenando-as a um regime de semi-escravatura depois de lhes acenarem com el-dorados de licenciaturas e profissões construtivas na sociedade.
Dividem o mundo entre poderosos na engorda, com todas as regalias e nenhumas obrigações, e sub-humanos a quem sugam as vidas, com todas as obrigações e nenhum direito.
Não! O mundo não tem donos nem elites!
No dia 15 de Setembro, é preciso gritar até que nos oiçam.
«Não» é «não»! Que se lixe a troika! Queremos as nossas vidas!
RITA VELOSO