sábado, 2 de fevereiro de 2013

Texto de António Pinho Vargas

Apoio a manifestação de 2 de Março por várias razões. A democracia parlamentar tem-nos mostrado as suas insuficiências e os seus limites. Os partidos políticos têm certamente um papel a representar, mas são evidentes dois factores: a crise de confiança das populações no sistema democrático actualmente existente é geral na Europa; e existe no país um bloqueio que se manifesta de dois modos: a desejada, desde Sá Carneiro, junção governo-maioria-presidente impede o equilíbrio interno do sistema político; e a divisão histórica entre os partidos das várias esquerdas não dá sinais de se alterar.

Mas a política não se circunscreve aos seus profissionais e diz antes respeito a todos os cidadãos. A crise da democracia representativa é manifesta e só se poderá resolver através do seu aprofundamento em várias direcções que poderão ir da democracia participativa até à consideração de novas e criativas formas de participação cidadã.

A manifestação de 15 de Setembro de 2012 mostrou com clareza a importância das manifestações de massas, abertas e apartidárias e, no contexto agravado pelo anúncio da medida da TSU, desempenhou um papel decisivo no recuo do governo nessa altura. Mas o governo tem vários outros recursos e, com algum cinismo pelo meio, pôs em prática novas medidas que acabam por conduzir, no essencial, ao mesmo projecto político de fundo em curso: a transferência de dinheiro dos mais pobres para o pequeno grupo dos mais ricos. Passa pelo empobrecimento generalizado das populações, por cargas brutais de impostos sobre a classe média e pensionistas, mesmo os de mais baixos rendimentos, e por um claro favorecimento dos bancos e grupos financeiros, locais ou globais. Este projecto global, que esmaga os vários países do Sul da Europa, sob a orientação dos países ricos do Norte e as suas instituições financeiras associadas às políticas neoliberais (que se transferiram parcialmente dos EUA para a Europa) deve ser combatido. As suas consequências são já devastadoras e serão difíceis de recuperar face ao enorme grau do retrocesso. A crise-pretexto aumenta as desigualdades, a pobreza, a dificuldade de viver com a mínima decência e dignidade para muitas pessoas, quebrou o contrato social e as bases de um Estado Social que caminhe na direcção da justiça e da igualdade. É um projecto político que divide a própria base social de apoio dos partidos do governo, capturados por um grupo radical de direita ultra-liberal na ideologia, interesseiro nos negócios e mesmo imoral na forma como trata os mais deserdados do mundo.