Quero o meu direito a sonhar.
Sou uma das subscritoras da convocatória da manifestação do próximo dia 2 de março.
Muita gente tem já escrito, provavelmente melhor, acerca do que os leva a juntar-se ao protesto. Compreendo todas as razões. Solidarizo-me com todas. As minhas razões também são as mesmas.
O que me junta a todos os outros é precisamente uma questão de solidariedade. Não viemos todos do mesmo sítio e não pensávamos todos ir para o mesmo sítio. Mas, de repente, deixámos de pensar para onde poderíamos ir. Já não há espaço para pensar, muito menos para sonhar.
Passámos a viver o dia-a-dia, a tentar reduzir as perdas ao mínimo. Estamos em plena sobrevivência e isto não é vida para ninguém.
Sairei para a rua todas as vezes que for preciso, porque vida só tenho esta. Tenho quarenta anos e mereço algum sossego.
Sairei para a rua todas as vezes que for preciso, porque tenho uma filha e ela merece uma vida.
Sairei para a rua todas as vezes que for preciso, porque tenho avós que, de lágrimas nos olhos, me dizem: «não foi para isto».
Sairei para a rua todas as vezes que for preciso, porque tenho uns pais que dedicaram uma vida inteira ao serviço nacional de saúde e me dizem: «estão a matar tudo».
Sairei para a rua todas as vezes que for preciso, porque diariamente há gente que perde o seu emprego.
Sairei para a rua todas as vezes que for preciso, porque diariamente há gente que perde as suas casas.
Sairei para a rua todas as vezes que for preciso, porque se amontoam as pessoas a dormir nas ruas.
Sairei para a rua todas as vezes que for preciso, porque há gente com fome.
Sairei para a rua todas as vezes que for preciso, porque a democracia também se cumpre na rua.
Sairei para a rua todas as vezes que for preciso, porque eu preciso de mais do que simplesmente chegar a casa e estar a escrever textos para serem publicados no site do «que se lixe a troika».
Sairei para a rua todas as vezes que for preciso, porque eu necessito de chegar a casa e sonhar.