quarta-feira, 27 de fevereiro de 2013

Texto de João Lavinha

Sou um cidadão sem partido, por enquanto com emprego, mas cuja esperança já viu melhores dias. Com esta bagagem, irei juntar a minha voz à de todos aqueles que, no dia 2 de Março, uma vez mais farão da rua a sua casa comum («Em cada esquina um amigo…»). Faço-o para demonstrar a minha radical recusa de que a troika* desrespeite os nossos direitos do trabalho, degrade os nossos serviços públicos universais (escola, saúde, segurança social, justiça, segurança), dificulte a produção e fruição dos bens culturais, inviabilizando o notável percurso de desenvolvimento em democracia, só tornado possível pela Revolução de Abril.
Uma das traves mestras desse processo — que é necessário retomar sem hesitações, sob pena de se arruinar a democracia e enterrar o país — foi a aposta na melhoria da qualificação dos nossos recursos humanos e na construção de uma comunidade científica com massa crítica, cosmopolita e servida por infra-estruturas e instituições adequadas, capaz de equacionar os nossos problemas e criar a base de conhecimento cientificamente validado, sobre a qual tomar as decisões políticas, administrativas ou técnicas. Com os actuais cortes no financiamento e as dificuldades crescentes na sua utilização e sem o suficiente esforço de recrutamento e retenção de talentosos jovens investigadores e técnicos de investigação, que vemos partir em número crescente para latitudes mais acolhedoras para o capital humano bem qualificado, perspectiva-se já a regressão de Portugal a uma situação de atraso científico e tecnológico que julgávamos para sempre ultrapassada.
Ficaremos, assim, menos capazes de identificar, explorar e valorizar de forma sustentável os nossos recursos naturais endógenos. Por outro lado, estaremos menos bem equipados para fazer face aos múltiplos perigos e riscos ambientais, alimentares, climáticos, sísmicos, sociais ou de saúde, que nos ameaçam e que precisamos de monitorizar para assim os prevenir ou minimizar os seus efeitos. O que não deixará de agravar a nossa dependência e o nosso endividamento. Urge, por isso, construir uma alternativa ao actual poder político, apoiada pela mais ampla base social possível. Como mais um passo nesse sentido, respondi com entusiasmo ao apelo do movimento «Que se lixe a troika! O povo é quem mais ordena!» participando civicamente na jornada do próximo 2 de Março.

* Um governo multinacional não eleito acolitado por um governo nacional que, prometendo o que sabia não ir fazer, colheu o voto de uma maioria dos portugueses justamente zangados com o governo anterior.