domingo, 24 de fevereiro de 2013

Texto de Nuno Bio

Na televisão, depois do rol de novas medidas de austeridade, o Ministro das Equivalências recebe a sua enésima vaia, um senhor pensador resume a máxima do governo, «isto é privado, não há direitos!», enquanto expulsa os resistentes cantores.
A nossa inacção colectiva levou-nos ao estado a que isto chegou. Embriagados pelas acções de marketing político, fomos levados a acreditar que o estado gere mal, que os mercados são sábios, que o privatizado é que é bom e com vantagens e que o capitalismo é um paraíso na terra.
A nossa ignara parvoíce levou-nos a eleger representantes numa democracia de fachada que nos retira os valores e os direitos que são pilares da sociedade. Igualdade, Fraternidade e Liberdade são letra morta, apenas palavras bonitas. As promessas eleitorais são prontamente esquecidas e não cumpridas e as acções tomadas são o rigoroso oposto do prometido.
Conseguimos eleger duas vezes para presidente da república o primeiro-ministro que destruiu o nosso tecido produtivo na década de 90. Elegemos, numa estupidificadora alternância, os partidos plutocratas da mesmíssima política, a que nos deixa mais longe de uma comunidade avançada.

Fomos perdendo, um atrás de outro, os direitos que nos conduziam a uma sociedade mais igualitária e justa. A uma sociedade sustentável. Foi tão rápida a sua derrota, foi tão célere a destruição do pouco que tinha sido conquistado. Conquistado com luta, com greves, com manifestações, com sangue. Fomos precarizando a vida e deixando de ter futuro.

Parámos de pensar, deixámos de reflectir nas soluções alternativas que existem para alterar o estado de coisas. Aceitámos o inevitável e ignorámos quem nos dizia que era inviável. Quando o inevitável se torna evidentemente inviável, a nossa resposta de pânico é ameaçarmos voltar ao alterne costumeiro. A actual situação é fruto, em parte, do nosso alheamento e das nossa más decisões colectivas.

Chegámos a um impasse e os impasses são historicamente períodos curtos.

Dois caminhos se colocam à nossa frente: ou a resistência activa contra quem nos quer destruir consegue alterar este sistema caduco, ou a austeridade de ideias e políticas vai triunfar, apoiada no autoritarismo repressivo que já começou a mostrar as garras.

Temos que estar presentes nesta verdadeira luta e escolher se pretendemos ser marionetas dos famigerados mercados, se queremos ter vergonha de olhar a próxima geração nos olhos, ou se, pelo contrário, queremos poder controlar e gerir a nossa própria vida, construindo uma sociedade diferente: verdadeiramente democrática, participativa e representativa da sociedade.
Os nossos pais construíram Abril e os nossos filhos exigem-no, não os podemos desapontar. Temos de tomar a nossa felicidade e o nosso futuro de novo nas nossas mãos.

Se o povo é quem mais ordena, temos que sair à rua dia 2 Março e sempre que for necessário.
Este governo tem que ser demitido a bem ou a mal. Se este governo só sair à força, arranjemos a forma de o fazer. Temos que garantir que as troikas internacionais e o triunvirato de partidos nacionais deixam de servir os seus interesses, escravizando-nos pelo caminho, e que largam o poder.

Se o povo é quem mais ordena, que demonstremos no dia 2 Março e sempre que o possamos fazer, e pelos meios que consideremos mais correctos e eficazes: noutras manifestações, em paralisações, em greves, nas vaias e nos apupos, a cantar, a dançar, a desenhar, nas estruturas em que participamos, nas eleições, nas ruas, no trabalho, em casa...
Sempre que houver uma oportunidade devemos resistir activamente. Se nos matam uma sociedade, se nos destroem a comunidade, se tudo vale para nos escravizar, não temos direito de contra-atacar. Temos o dever.

Que seja refodam as Troikas!