sábado, 23 de fevereiro de 2013

Texto de Aquilino Machado


Romper o silêncio aflito

A rua é o território preferencial da acção política. A mobilização colectiva que nela ocorre é o legado mais democrático construído numa cidade. Determinados locais desenvolvem uma memória colectiva perdurável, sítios com história, que gerações e gerações de pessoas os percorreram ou ainda percorrem, conjugando uma mescla de acções de celebração e confronto de ideias. São espaços de forte carga simbólica e, pela identidade histórica que deles emana, devem ser sempre apropriados quando sentimos que os nossos direitos se encontram em perigo.

Esta geografia consolidada de acção colectiva é a mais bela e poderosa narrativa que um povo pode usar no combate às consequências das actuais políticas neoliberais. Um poder sinistro que tolhe, encolhe e desgraça as funções sociais do estado e que, por isso, se torna fonte das mais infames desigualdades e injustiças.

O silêncio aflito é o mais agreste traço de submissão. Uma forte mobilização para o próximo dia 2 de Março torna-se assim um imperativo de cidadania democrática, mas também um tributo de enorme valor simbólico a todos aqueles que, ao longo dos tempos, se apropriaram corajosamente das ruas, lutando pelos direitos colectivos de um povo.

Confrontar ideias, valores e proposições políticas no espaço público é pugnar pelo não esquecimento de uma memória. Porque ao perdermos o nosso mundo, apagamos também a memória de muitos que souberam resistir.