sexta-feira, 22 de fevereiro de 2013

Texto de João Gustavo


Muda de vida

“Muda de vida, se tu não vives satisfeito
Muda de vida, estás sempre a tempo de mudar
Muda de vida, não deves viver contrafeito
Muda de vida, se há Vida em ti a latejar”

António Variações

Perdoar-me-ão que neste texto não me refira à Troika (Fundo Monetário Internacional, Banco Central Europeu e Comissão Europeia).
Nem ao grupo de pessoas que ocupa o lugar de governo deste país.
Nem à pessoa que ocupa o lugar de Presidente da República.
Nem aos poucos que, no seu ilusionismo especulativo, imoral e quantas vezes ilegal, lucram milhões enquanto a rapaziada anda a fazer pela vida, a descobrir novos limites de sobrevivência (ou mesmo não-vivência).
Como devem supor, considero tudo isso bastante relevante e muito há a dizer sobre estas matérias. Mas confio que os leitores deste texto estão suficientemente informados, e outros textos neste âmbito debruçam-se sobre estas temáticas (com qualidade, rigor e descrição aprofundada).

O meu contributo foca-se na seguinte questão: o que pode mudar a manifestação de 2 de Março?

Sairmos do isolamento, libertarmo-nos da culpa e da vergonha!
Quando estamos absorvidos nos nossos (legítimos e justificados) dramas pessoais, tendemos a fecharmo-nos em conchas. Vendo a vida a escoar-se sentimo-nos culpados. Sentindo-nos fracos temos vergonha de expressá-lo. E isso isola-nos cada vez mais.
É hora de nos vermos todos juntos, e sabermos que não estamos sozinhos. E libertar-nos de um sentimento de culpa e de vergonha (muitas vezes inconsciente) que nos faz sentir pequeninos. Não somos! E assumimos a nossa dignidade. Assumimos o direito a uma Vida digna, plena de condições para nos desenvolvermos (individual e colectivamente). O direito a Viver, trazendo o Sonho à realidade. É nosso, e como multidão assim o expressamos.

Superarmos uma sensação de impotência!
Sozinhos tendemos a sentir-nos impotentes para alterar coisas de uma grande dimensão. Só que somos muitos a querer mudar. E quando o afirmamos juntos, com a força da expressão de sermos muitos, sentimo-nos maiores.

Vencermos o medo!
O medo é fruto da impotência. Por pior que estejamos, temos (muitas vezes de forma inconsciente) o medo do que pode ainda piorar, e nada podermos fazer para evitá-lo (ou assim pensamos, mesmo que inconscientemente). Quando estamos juntos, em multidão, a afirmar a Vida que queremos transformar, lembramo-nos que somos Fortes. E quando estamos fortes não há nada que temamos.

Precisamos de uma mudança que vá à raiz, que traga à luz um novo “paradigma de Ser, em sociedade”! Não estou a falar de estruturas ou sistemas de organização da sociedade. Estou a falar da mudança de consciência, para um paradigma em que o Amor guia todas as decisões na gestão do Bem Comum. Um paradigma que, por isso, vela pela Verdade e pela Justiça, um paradigma que está em harmonia com o progresso, com a expansão na Vida de todos e de cada um. Um paradigma que permite, facilita e ajuda a História a andar para a frente.
Um paradigma assim não se decreta. Nem se muda por carregar num botão. Nem há fórmulas mágicas (quanto à sua estrutura ou sistema de organização). Nem será pelo surgimento de um qualquer indivíduo travestido de Messias. Nem tem alicerces para perdurar se não for sustentado por uma larguíssima maioria das pessoas.
Por isso, e indo à raiz da questão, a mudança está em nós, Povo. Em tomarmos em mãos o nosso destino colectivo. Em assumir o nosso Poder, a nossa Força e Determinação.
Um Povo forte não deixa lugar para que alguém dele abuse. E por isso se diz – e bem – “o Povo Unido jamais será vencido”. Portanto, o nosso primeiro e principal desafio é Unirmo-nos naquilo que nos é comum e é essencial. E isso, no contexto actual da nossa história colectiva, significa encontrarmo-nos na rua no dia 2 de Março. Muitos, muitos mesmo. Todos se for preciso. Vermo-nos nos olhos, abraçarmo-nos, sorrirmos. Porque eu sou tu e tu és eu. E nós, juntos, queremos mudar. E por isso nos juntamos. Na rua, a 2 de Março de 2013.

Era o meu filho muito pequenino (aí uns 4 anos) e inventou uma canção que dizia “levanta e voa, levanta e voa, cada vez que chove”.
Sabemos o tamanho da nossa dor. A dor própria e a dor que sentimos por empatia solidária com quem sofre ao nosso lado (independentemente da distância física). O desemprego, os despejos, a pobreza, a fome, a miséria. Aqui, na Grécia, ou em qualquer parte do mundo. Mas também sabemos que o caminho é transformarmos essa dor numa poderosa vitamina anímica, capaz de mobilizar os nossos melhores recursos e forças para alterar a situação. Para nos levantarmos e voarmos, a cada vez que chova.