Podem-me cortar o cordão umbilical, mas a cicatriz ficará sempre!
Quem somos nós? A questão de fundo portuguesa é sobretudo uma questão de crise de identidade. Desde 1986, aquando da sua integração na Comunidade Económica Europeia, que Portugal faz de tudo para ser aceite num grupo de «amigos», como se estivesse numa escola, tanto que deu mais de si do que deveria, e neste «dar», muitas das suas características, como povo, foram absorvidas, esquecidas e transformadas, e a diversidade da sua singularidade perdeu-se num dito plural, económico. No fundo, tenta-se «ser europeu sem a má criação de nacionalidade» (Fernando Pessoa). Não foi por acaso que o 25 de Abril nos pôs a querer saber quem somos, o que fazemos aqui e a questionar quem nos abandonou.
Quem somos nós? Será que somos mesmo «especiais, diferentes, bastante giros, bem-educados, antigos, espertos, casos sérios» (Miguel Esteves Cardoso)? Aponta o mesmo que a «existência» de Portugal é uma surpresa para a maioria da população da Terra. Algo semelhante ao que Francisco da Cunha Leão afirmava ao referir que Portugal seria um dos mais espantosos casos de independência nacional que a história registou, «pela pertinácia e o rumo seguro das afirmações colectivas, pelo sentimento unitário que soube manter através da fluidez dos caminhos próprios».
Quem somos nós? Possuímos um espaço territorial que se espelha no ser das gentes que o ocupam, humildemente estranho por fora mas imenso por dentro. O povo português chega a projectar «toda a sua ansiedade psicológica e social, toda a sua aspiração religiosa e mítica a uma plenitude de ser, a algo que transcenda o querer e o ter, um desejo profundo e inominável de mais ser» (António Quadros). Mas o país Portugal é um mapa que ultrapassa as fronteiras políticas e geográficas, sendo uma das suas «terras» a língua portuguesa, como defendia Fernando Pessoa.
Quem somos nós? Portugal não é só as grandes metrópoles e toda a envolvência do seu hiper-realismo, que ilude e entretém as massas, o país é igualmente o seu interior rico em cultura e histórias, povoado de gentes que viraram costas à atracção da plenitude do mar, escolhendo viver perto dos seus afluentes e do conforto duma ecologia acolhedora. Portugal é um «quadro geográfico natal raro», que «oferece inóspitas asperezas ou dimensões esmagadoras do homem», e feito «quase sempre de paisagem humanizada ou afeiçoável ao homem» (Francisco da Cunha Leão). Mas Portugal é mais do que isto, é a expressão de um espelho de um «porto de abrigo» (Allis Ubbo, antigo nome fenício de Lisboa), assumida e psicologicamente para além de si próprio.
Quem somos nós? Francisco da Cunha Leão caracterizou o português como sendo individualista. O «individualismo e a diversidade da população põem constantemente em risco as obras colectivas, às quais tem faltado quase sempre o apoio unânime». E não menos «cioso em reivindicar o direito a opiniões próprias, sem que se vergue à autoridade como imposição», não seguindo «politicamente os intelectuais». Uma ainda grande parte desses portugueses representam um Portugal profundo e secular, que não ligam a pensamentos ideológicos políticos que nem chegaram a compreender, ligam isso sim a quem lhes dê a mão e lhes facilite a vida, são práticos no que fazem e desenrascam-se com o que os define na sua diversidade individual, não deixando de ser um só. Nas palavras de Jorge Dias são «um povo paradoxal e difícil de governar», cujos «defeitos podem ser as suas virtudes e as virtudes os seus defeitos conforme a égide do momento». Em suma, «o português compreende e age por comoção», resume Cunha Leão. De igual forma, o Padre António Vieira chegou a relevar que «mais fácil era antigamente conquistar dez reinos na Índia, que repartir duas comendas em Portugal».
Quem somos nós? Actualmente a nossa liberdade abrilista é ilusória, manietada e permitida por um governo não por nós mandatado. Aquele que o foi não respeita as premissas da sua campanha. No entanto, «Portugal foi livre, enquanto foi português nas suas obras; enquanto soube realizá-las, obedecendo apenas à sua vontade vitoriosa» (Teixeira de Pascoaes). Quer-se que Portugal seja tudo o que há de modernidade pretensiosa civilizacional, mas não se deixa espaço para que tenha oportunidade de ser Portugal. Isso faz com que o povo entre num corrupio de «esquizofrenia sublime» (Eduardo Lourenço) e se submeta a ideologias político-sociais sem questionar a sua implementação anacrónica. Talvez por um «excesso de consciencialização da própria condição», salienta o mesmo, o português não se reconhecerá nas visões de sociedade proclamadas pelas vigentes máquinas partidárias.
Quem somos nós? Como Miguel Esteves Cardoso concluiu, «ser português é difícil», por isso somos capazes de ter «algum medo de ser portugueses». É como se tivéssemos um destino e não coubéssemos «no berço onde o corpo nasceu» (Miguel Torga). Realmente, como diria Teixeira de Pascoaes, «ser português é uma arte». Salientou Jorge Dias que «a personalidade psico-social do povo português é complexa e envolve antinomias profundas», o português «é um misto de sonhador e homem de acção», que «possui grande fundo de solidariedade humana». Somos um «povo simultaneamente sonhador e muito realista» (Eduardo Lourenço). Temos uma «idealidade sonhadora», um «fundo instável de inquietação», uma «mundivisão saudosa» (Francisco da Cunha Leão). Sim, a saudade. Esta «saudade, fulcro de sensibilidade portuguesa, esperançoso apego à vida» que «impregna toda a vida sentimental e activa dos portugueses» como um irrequieto «sentimento de ansiedade», descrevia Cunha Leão.
Quem somos nós? Fomos aferrolhados a uma ilusão de um complexo de inferioridade instruído e instrumentalizado. Esquecemos o sentido da História. Esquecemos que a unidade subtil do Brasil presente no seu superego colectivo reflecte um monumento prodigioso à harmonia dos contrários antropológicos inerentes ao estar e ser português. Mas basta! Este povo, por analogia, aguentou uma fase de «vergastada», encontrar-se-á em pleno fim de «crucificação» e somente após tal suplício ressuscitará como um povo novo, um povo acordado? É altura de assumirmos aquilo que fomos e termos a coragem de ser. É o momento de sermos portugueses!
Quem somos nós? A questão de fundo portuguesa é sobretudo uma questão de crise de identidade. Desde 1986, aquando da sua integração na Comunidade Económica Europeia, que Portugal faz de tudo para ser aceite num grupo de «amigos», como se estivesse numa escola, tanto que deu mais de si do que deveria, e neste «dar», muitas das suas características, como povo, foram absorvidas, esquecidas e transformadas, e a diversidade da sua singularidade perdeu-se num dito plural, económico. No fundo, tenta-se «ser europeu sem a má criação de nacionalidade» (Fernando Pessoa). Não foi por acaso que o 25 de Abril nos pôs a querer saber quem somos, o que fazemos aqui e a questionar quem nos abandonou.
Quem somos nós? Será que somos mesmo «especiais, diferentes, bastante giros, bem-educados, antigos, espertos, casos sérios» (Miguel Esteves Cardoso)? Aponta o mesmo que a «existência» de Portugal é uma surpresa para a maioria da população da Terra. Algo semelhante ao que Francisco da Cunha Leão afirmava ao referir que Portugal seria um dos mais espantosos casos de independência nacional que a história registou, «pela pertinácia e o rumo seguro das afirmações colectivas, pelo sentimento unitário que soube manter através da fluidez dos caminhos próprios».
Quem somos nós? Possuímos um espaço territorial que se espelha no ser das gentes que o ocupam, humildemente estranho por fora mas imenso por dentro. O povo português chega a projectar «toda a sua ansiedade psicológica e social, toda a sua aspiração religiosa e mítica a uma plenitude de ser, a algo que transcenda o querer e o ter, um desejo profundo e inominável de mais ser» (António Quadros). Mas o país Portugal é um mapa que ultrapassa as fronteiras políticas e geográficas, sendo uma das suas «terras» a língua portuguesa, como defendia Fernando Pessoa.
Quem somos nós? Portugal não é só as grandes metrópoles e toda a envolvência do seu hiper-realismo, que ilude e entretém as massas, o país é igualmente o seu interior rico em cultura e histórias, povoado de gentes que viraram costas à atracção da plenitude do mar, escolhendo viver perto dos seus afluentes e do conforto duma ecologia acolhedora. Portugal é um «quadro geográfico natal raro», que «oferece inóspitas asperezas ou dimensões esmagadoras do homem», e feito «quase sempre de paisagem humanizada ou afeiçoável ao homem» (Francisco da Cunha Leão). Mas Portugal é mais do que isto, é a expressão de um espelho de um «porto de abrigo» (Allis Ubbo, antigo nome fenício de Lisboa), assumida e psicologicamente para além de si próprio.
Quem somos nós? Francisco da Cunha Leão caracterizou o português como sendo individualista. O «individualismo e a diversidade da população põem constantemente em risco as obras colectivas, às quais tem faltado quase sempre o apoio unânime». E não menos «cioso em reivindicar o direito a opiniões próprias, sem que se vergue à autoridade como imposição», não seguindo «politicamente os intelectuais». Uma ainda grande parte desses portugueses representam um Portugal profundo e secular, que não ligam a pensamentos ideológicos políticos que nem chegaram a compreender, ligam isso sim a quem lhes dê a mão e lhes facilite a vida, são práticos no que fazem e desenrascam-se com o que os define na sua diversidade individual, não deixando de ser um só. Nas palavras de Jorge Dias são «um povo paradoxal e difícil de governar», cujos «defeitos podem ser as suas virtudes e as virtudes os seus defeitos conforme a égide do momento». Em suma, «o português compreende e age por comoção», resume Cunha Leão. De igual forma, o Padre António Vieira chegou a relevar que «mais fácil era antigamente conquistar dez reinos na Índia, que repartir duas comendas em Portugal».
Quem somos nós? Actualmente a nossa liberdade abrilista é ilusória, manietada e permitida por um governo não por nós mandatado. Aquele que o foi não respeita as premissas da sua campanha. No entanto, «Portugal foi livre, enquanto foi português nas suas obras; enquanto soube realizá-las, obedecendo apenas à sua vontade vitoriosa» (Teixeira de Pascoaes). Quer-se que Portugal seja tudo o que há de modernidade pretensiosa civilizacional, mas não se deixa espaço para que tenha oportunidade de ser Portugal. Isso faz com que o povo entre num corrupio de «esquizofrenia sublime» (Eduardo Lourenço) e se submeta a ideologias político-sociais sem questionar a sua implementação anacrónica. Talvez por um «excesso de consciencialização da própria condição», salienta o mesmo, o português não se reconhecerá nas visões de sociedade proclamadas pelas vigentes máquinas partidárias.
Quem somos nós? Como Miguel Esteves Cardoso concluiu, «ser português é difícil», por isso somos capazes de ter «algum medo de ser portugueses». É como se tivéssemos um destino e não coubéssemos «no berço onde o corpo nasceu» (Miguel Torga). Realmente, como diria Teixeira de Pascoaes, «ser português é uma arte». Salientou Jorge Dias que «a personalidade psico-social do povo português é complexa e envolve antinomias profundas», o português «é um misto de sonhador e homem de acção», que «possui grande fundo de solidariedade humana». Somos um «povo simultaneamente sonhador e muito realista» (Eduardo Lourenço). Temos uma «idealidade sonhadora», um «fundo instável de inquietação», uma «mundivisão saudosa» (Francisco da Cunha Leão). Sim, a saudade. Esta «saudade, fulcro de sensibilidade portuguesa, esperançoso apego à vida» que «impregna toda a vida sentimental e activa dos portugueses» como um irrequieto «sentimento de ansiedade», descrevia Cunha Leão.
Quem somos nós? Fomos aferrolhados a uma ilusão de um complexo de inferioridade instruído e instrumentalizado. Esquecemos o sentido da História. Esquecemos que a unidade subtil do Brasil presente no seu superego colectivo reflecte um monumento prodigioso à harmonia dos contrários antropológicos inerentes ao estar e ser português. Mas basta! Este povo, por analogia, aguentou uma fase de «vergastada», encontrar-se-á em pleno fim de «crucificação» e somente após tal suplício ressuscitará como um povo novo, um povo acordado? É altura de assumirmos aquilo que fomos e termos a coragem de ser. É o momento de sermos portugueses!