Quando o mês de abril aqui chegou, encontrava-me eu a meio do curso, frequentando o sistema de ensino público: uma escola autoritária, acrítica e elitista, em que sempre me senti desajustada.
Quando o mês de maio começou, também eu acreditei que, enfim, tudo isso fazia parte de um sonho mau que já passara, e entre a reivindicação e a festa, foi nas ruas da minha cidade que soltei as inúmeras esperanças. No verão já colheríamos o pão, que tudo se passa à velocidade fácil do voluntarismo, quando se é jovem.
Mas com a minha filha mais velha já na escola, vi-me nos anos seguintes a sofrer as ziguezagueantes decisões de governos sucessivos, numa desorganização que às vezes tocava o intolerável. Tudo estava bem, no entanto, que o percurso era o que nos levaria, por fim, a uma escola nova.
A realidade é, porém, mais lenta que os nossos sonhos. As mazelas de décadas tinham criado um sistema resistente à mudança, que afinal nunca tinha sido socialmente justo, pese embora algumas boas vontades e tentativas mais ou menos sérias de o garantir. Esta foi a razão que me levou, enquanto o meu filho frequentou as escolas básica e secundária, a envolver-me no movimento associativo dos pais e mães, em que me mantive até à sua entrada na universidade.
Todo este tempo, em tudo o que participei com outros companheiros e companheiras, em todas as ações que organizámos, discussões e reflexões que promovemos, era essa a preocupação que nos movia: construir uma escola pública inclusiva e de qualidade, com os meios adequados e diferenciados, que garantissem as respostas certas a todos em geral e a cada um em particular. Nunca nos questionámos se valia a pena tanto crer. Sabíamos que o valia.
Chegou agora a vez de os meus netos entrarem para a escola e eu descubro todos os dias, tristemente, que nada do que tínhamos dado como adquirido o era. E embora às vezes me seja até difícil entender esta realidade deslizante, a grande velocidade, para um buraco negro que julgava arrumado no passado, vejo infelizmente como o sistema de ensino cada vez mais se parece com o que eu frequentei há décadas!
A falta de meios provoca, por cortes sucessivos, ruturas no funcionamento das escolas; os professores, com um número de alunos ingerível, tornaram-se desmotivados e tristes, vivendo um desespero quotidiano; os assistentes operacionais não conseguem cumprir, pelas mesmas razões, as tarefas de que os incumbem; os alunos e as suas famílias, no meio de preocupações da vida que se tornou muito mais difícil, são ameaçados com uma gratuitidade a prazo, apesar de todas as garantias constitucionais.
Não posso pactuar com esta situação. Ficando calada e quieta, como mais uma vez nos querem, estarei a ser cúmplice deste retrocesso civilizacional. Não ficarei! Nem calada, nem quieta.
No dia 2 de março, com estas razões e todas as outras que cada um de nós transporta, acredito que encheremos, uma vez mais, todas as ruas da cidade, gritando a nossa revolta!
Quando o mês de maio começou, também eu acreditei que, enfim, tudo isso fazia parte de um sonho mau que já passara, e entre a reivindicação e a festa, foi nas ruas da minha cidade que soltei as inúmeras esperanças. No verão já colheríamos o pão, que tudo se passa à velocidade fácil do voluntarismo, quando se é jovem.
Mas com a minha filha mais velha já na escola, vi-me nos anos seguintes a sofrer as ziguezagueantes decisões de governos sucessivos, numa desorganização que às vezes tocava o intolerável. Tudo estava bem, no entanto, que o percurso era o que nos levaria, por fim, a uma escola nova.
A realidade é, porém, mais lenta que os nossos sonhos. As mazelas de décadas tinham criado um sistema resistente à mudança, que afinal nunca tinha sido socialmente justo, pese embora algumas boas vontades e tentativas mais ou menos sérias de o garantir. Esta foi a razão que me levou, enquanto o meu filho frequentou as escolas básica e secundária, a envolver-me no movimento associativo dos pais e mães, em que me mantive até à sua entrada na universidade.
Todo este tempo, em tudo o que participei com outros companheiros e companheiras, em todas as ações que organizámos, discussões e reflexões que promovemos, era essa a preocupação que nos movia: construir uma escola pública inclusiva e de qualidade, com os meios adequados e diferenciados, que garantissem as respostas certas a todos em geral e a cada um em particular. Nunca nos questionámos se valia a pena tanto crer. Sabíamos que o valia.
Chegou agora a vez de os meus netos entrarem para a escola e eu descubro todos os dias, tristemente, que nada do que tínhamos dado como adquirido o era. E embora às vezes me seja até difícil entender esta realidade deslizante, a grande velocidade, para um buraco negro que julgava arrumado no passado, vejo infelizmente como o sistema de ensino cada vez mais se parece com o que eu frequentei há décadas!
A falta de meios provoca, por cortes sucessivos, ruturas no funcionamento das escolas; os professores, com um número de alunos ingerível, tornaram-se desmotivados e tristes, vivendo um desespero quotidiano; os assistentes operacionais não conseguem cumprir, pelas mesmas razões, as tarefas de que os incumbem; os alunos e as suas famílias, no meio de preocupações da vida que se tornou muito mais difícil, são ameaçados com uma gratuitidade a prazo, apesar de todas as garantias constitucionais.
Não posso pactuar com esta situação. Ficando calada e quieta, como mais uma vez nos querem, estarei a ser cúmplice deste retrocesso civilizacional. Não ficarei! Nem calada, nem quieta.
No dia 2 de março, com estas razões e todas as outras que cada um de nós transporta, acredito que encheremos, uma vez mais, todas as ruas da cidade, gritando a nossa revolta!