Regresso ao Futuro
As palavras de amor sobram em tempos de guerra. Enquanto os bancos despejam os pobres das suas casas, os ricos banqueteiam-se. Para que o dinheiro lhes continue a chover nos bolsos, nós temos que aguentar a miséria que nos impõem. Portugal é um país do terceiro mundo travestido. De todas as que nos levaram, a única fábrica que resta é a que produz esse imenso exército de desempregados. Quem nos vendeu a ideia de que com a destruição da indústria, das pescas e da agricultura se abririam as portas do futuro, sabia que estava a pavimentar o caminho de regresso ao passado.
Em 1926, os banqueiros, os industriais e os agrários encontraram no fascismo a solução para submeter os trabalhadores ao seu mundo de terror. À frente do país, estavam os seus representantes políticos encabeçados por Salazar e Caetano. Depois de 1976, refeitos do susto revolucionário, o poder económico apostou em Mário Soares e Cavaco Silva. Foram eles que falaram do futuro para nos levar ao passado. Acenaram-nos com a CEE como se fosse um letreiro de um casino de Las Vegas e omitiram-nos que eles próprios eram o croupier de um jogo viciado.
PS, PSD e CDS-PP são os tentáculos políticos do polvo económico que nos afoga nesta tragédia sem nome. Eles são a cara. O FMI, União Europeia e Banco Central Europeu são a coroa. Duas faces de uma bala que tem o nosso nome. São os que destroem as funções sociais do estado e que privatizam para uns poucos o que é de todos. Mas eles sabem que unidos podemos derrotá-los. É por isso que inventam conceitos que juntam ricos e pobres, patrões e trabalhadores. Precisamente para que pensemos que eles nos representam.
No fundo, não há quem lixa e quem é lixado: somos todos cidadãos e todos responsáveis. Os mesmos que querem que paguemos as suas dívidas e que nunca se preocuparam em partilhar os seus lucros tentam misturar o sem-abrigo com o banqueiro, o que trabalha no andaime com o que administra um grupo económico. Por isso é que assumirmos orgulhosamente a condição do que realmente somos —maioria, 99 %, trabalhadores, proletários, explorados, precários, lixados, fodidos, humilhados — é a forma de dizermos que nada temos de comum com eles.
Quando era pequeno, intrigava-me o facto de o filme Regresso ao Futuro ser uma viagem ao passado. Mas é um título que se adequa à nossa história. Se pensarmos que 1974 é futuro e 2013 é passado tudo faz sentido. Naquele tempo a que temos de regressar, o povo uniu-se para derrotar o fascismo e abriu as portas a um futuro de justiça social e progresso. Não se trata de qualquer celebração saudosista. Trata-se de recuperar o poder político e económico para as mãos de quem trabalha. Não temos Zeca Afonso, não temos Salgueiro Maia e não temos Vasco Gonçalves. E todos eles, se estivessem vivos, diriam que isso não importa. O que importa é a massa que deu corpo à consigna que fez tremer o chão ao fascismo. Ali estaremos, a 2 de Março, para gritar que o povo é quem mais ordena.
As palavras de amor sobram em tempos de guerra. Enquanto os bancos despejam os pobres das suas casas, os ricos banqueteiam-se. Para que o dinheiro lhes continue a chover nos bolsos, nós temos que aguentar a miséria que nos impõem. Portugal é um país do terceiro mundo travestido. De todas as que nos levaram, a única fábrica que resta é a que produz esse imenso exército de desempregados. Quem nos vendeu a ideia de que com a destruição da indústria, das pescas e da agricultura se abririam as portas do futuro, sabia que estava a pavimentar o caminho de regresso ao passado.
Em 1926, os banqueiros, os industriais e os agrários encontraram no fascismo a solução para submeter os trabalhadores ao seu mundo de terror. À frente do país, estavam os seus representantes políticos encabeçados por Salazar e Caetano. Depois de 1976, refeitos do susto revolucionário, o poder económico apostou em Mário Soares e Cavaco Silva. Foram eles que falaram do futuro para nos levar ao passado. Acenaram-nos com a CEE como se fosse um letreiro de um casino de Las Vegas e omitiram-nos que eles próprios eram o croupier de um jogo viciado.
PS, PSD e CDS-PP são os tentáculos políticos do polvo económico que nos afoga nesta tragédia sem nome. Eles são a cara. O FMI, União Europeia e Banco Central Europeu são a coroa. Duas faces de uma bala que tem o nosso nome. São os que destroem as funções sociais do estado e que privatizam para uns poucos o que é de todos. Mas eles sabem que unidos podemos derrotá-los. É por isso que inventam conceitos que juntam ricos e pobres, patrões e trabalhadores. Precisamente para que pensemos que eles nos representam.
No fundo, não há quem lixa e quem é lixado: somos todos cidadãos e todos responsáveis. Os mesmos que querem que paguemos as suas dívidas e que nunca se preocuparam em partilhar os seus lucros tentam misturar o sem-abrigo com o banqueiro, o que trabalha no andaime com o que administra um grupo económico. Por isso é que assumirmos orgulhosamente a condição do que realmente somos —maioria, 99 %, trabalhadores, proletários, explorados, precários, lixados, fodidos, humilhados — é a forma de dizermos que nada temos de comum com eles.
Quando era pequeno, intrigava-me o facto de o filme Regresso ao Futuro ser uma viagem ao passado. Mas é um título que se adequa à nossa história. Se pensarmos que 1974 é futuro e 2013 é passado tudo faz sentido. Naquele tempo a que temos de regressar, o povo uniu-se para derrotar o fascismo e abriu as portas a um futuro de justiça social e progresso. Não se trata de qualquer celebração saudosista. Trata-se de recuperar o poder político e económico para as mãos de quem trabalha. Não temos Zeca Afonso, não temos Salgueiro Maia e não temos Vasco Gonçalves. E todos eles, se estivessem vivos, diriam que isso não importa. O que importa é a massa que deu corpo à consigna que fez tremer o chão ao fascismo. Ali estaremos, a 2 de Março, para gritar que o povo é quem mais ordena.