Vivo em Londres há mais de 9 anos. No dia 15 de Setembro de 2012 ajudei a organizar e participei numa manifestação junto da embaixada de Portugal no Reino Unido, que se juntou ao Que se Lixe a Troika: Queremos as Nossa Vidas. Nesse dia, ali mesmo na Belgrave Square, formou-se um grupo de emigrantes portugueses que continua a associar novos participantes. Desde então temos organizado protestos, debates e acções em conjunto com colectivos espanhóis, gregos, ingleses e outros. No dia 2 de Março vamos voltar à rua e entregar na embaixada as cartas de emigrantes portugueses que estamos agora a compilar.
O 15 de Setembro de 2012 (15S) foi um dia histórico para Portugal. Pela primeira vez desde 1974-75, sentimos que a força de uma multidão na rua, com a razão do seu lado, pode provocar mudanças na política do governo. Quem passou por dez anos de manifestações e greves contra a política de um primeiro-ministro que não lia jornais nem ia ao parlamento sabe que isso não é coisa pouca. Quem viu esse governo e os seguintes ignorar as vozes que diziam que se estava a desperdiçar os apoios comunitários e a destruir as fontes de recursos do país, percebe a urgência de intervir. Quem assistiu às manifestações contra a guerra no Iraque e viu o governo britânico insistir na mentira das armas de destruição massiva, agora provada, percebe que não se pode desistir.
O recuo na TSU foi uma transformação muito pequena para o que se reivindicava em Setembro, mas abriu um caminho. É certo que o governo insistiu num rumo errado, errático e que se apresenta como a única opção. Mas a força do 15S mostrou que a soberania não foi entregue nem ao Governo, nem a qualquer entidade supra-nacional e muito menos a instituições financeiras. Quando elegemos um parlamento e um governo, não entramos em hibernação política. Continuamos a ser soberanos.
Acredito que o 15S levou muita gente para a rua, não por causa do «não à Troika», mas por causa do apelo à reconquista nas nossas vidas. O «que se lixe» é mais do que uma rejeição; é um apelo à irrelevância. O que é mesmo importante são as nossas vidas. A nossa vida colectiva. O texto da convocatória expressa isso mesmo. O tom positivo, construtivo e poético abre caminho para a confiança de que necessitamos para fazer propostas. Só assim poderemos parar com a destruição de tudo o que é de todos e com a condenação de tudo o que gera outros valores que não o retorno financeiro imediato. Não é preciso saber falar a linguagem dos tecnocratas para o fazer. Nem é preciso concordar com todas as opiniões dentro de um grupo para nos associarmos a ele, ou com todos os versos de uma canção para a podermos entoar em conjunto. O que é preciso é mostrar que há muitos caminhos possíveis para o nosso futuro colectivo. E aprender rapidamente a mostrá-los, discuti-los e a trilhá-los. Em 2 de Março vamos poder abrir espaço para que isso aconteça. E como é urgente que o façamos! Como dizia o manifesto de 15S: «É preciso fazer qualquer coisa de extraordinário! É preciso convocar de novo as vozes, os braços e as pernas de todas e todos os que sabem que nas ruas se decide o presente e o futuro. É preciso vencer o medo que habilmente foi disseminado e, de uma vez por todas, perceber que já quase nada temos a perder…»
Muitos portugueses que não moram em Portugal vão juntar-se também. Fazemos parte de um espaço comum e vamos continuar a participar nele. E vamos continuar a construir pontes com cidadãos de outros países para procurar movimentos internacionais verdadeiramente democráticos, para os problemas que não cabem em fronteiras nacionais.
O 15 de Setembro de 2012 (15S) foi um dia histórico para Portugal. Pela primeira vez desde 1974-75, sentimos que a força de uma multidão na rua, com a razão do seu lado, pode provocar mudanças na política do governo. Quem passou por dez anos de manifestações e greves contra a política de um primeiro-ministro que não lia jornais nem ia ao parlamento sabe que isso não é coisa pouca. Quem viu esse governo e os seguintes ignorar as vozes que diziam que se estava a desperdiçar os apoios comunitários e a destruir as fontes de recursos do país, percebe a urgência de intervir. Quem assistiu às manifestações contra a guerra no Iraque e viu o governo britânico insistir na mentira das armas de destruição massiva, agora provada, percebe que não se pode desistir.
O recuo na TSU foi uma transformação muito pequena para o que se reivindicava em Setembro, mas abriu um caminho. É certo que o governo insistiu num rumo errado, errático e que se apresenta como a única opção. Mas a força do 15S mostrou que a soberania não foi entregue nem ao Governo, nem a qualquer entidade supra-nacional e muito menos a instituições financeiras. Quando elegemos um parlamento e um governo, não entramos em hibernação política. Continuamos a ser soberanos.
Acredito que o 15S levou muita gente para a rua, não por causa do «não à Troika», mas por causa do apelo à reconquista nas nossas vidas. O «que se lixe» é mais do que uma rejeição; é um apelo à irrelevância. O que é mesmo importante são as nossas vidas. A nossa vida colectiva. O texto da convocatória expressa isso mesmo. O tom positivo, construtivo e poético abre caminho para a confiança de que necessitamos para fazer propostas. Só assim poderemos parar com a destruição de tudo o que é de todos e com a condenação de tudo o que gera outros valores que não o retorno financeiro imediato. Não é preciso saber falar a linguagem dos tecnocratas para o fazer. Nem é preciso concordar com todas as opiniões dentro de um grupo para nos associarmos a ele, ou com todos os versos de uma canção para a podermos entoar em conjunto. O que é preciso é mostrar que há muitos caminhos possíveis para o nosso futuro colectivo. E aprender rapidamente a mostrá-los, discuti-los e a trilhá-los. Em 2 de Março vamos poder abrir espaço para que isso aconteça. E como é urgente que o façamos! Como dizia o manifesto de 15S: «É preciso fazer qualquer coisa de extraordinário! É preciso convocar de novo as vozes, os braços e as pernas de todas e todos os que sabem que nas ruas se decide o presente e o futuro. É preciso vencer o medo que habilmente foi disseminado e, de uma vez por todas, perceber que já quase nada temos a perder…»
Muitos portugueses que não moram em Portugal vão juntar-se também. Fazemos parte de um espaço comum e vamos continuar a participar nele. E vamos continuar a construir pontes com cidadãos de outros países para procurar movimentos internacionais verdadeiramente democráticos, para os problemas que não cabem em fronteiras nacionais.