Ao contrário do que ouvimos dizer tantas vezes, acho que «isto vai lá com manifestações». Basta olharmos para o passado: quantas afrontas ao poder dominante foram precisas para que se vivesse num lugar menos injusto? Quantas palavras de ordem foram gritadas até que o direito à greve ou a um horário de trabalho menos penoso se pudesse tornar realidade? Quantos gestos de coragem foram necessários para que os escravos e as mulheres pudessem ser gente, para que povos pudessem ter direito à autodeterminação, para que caíssem ditadores e ditaduras?
Façamos um outro exercício: o que diremos a quem nos perguntar, num futuro qualquer, o que fizemos quando se cortava como nunca o rendimento de quem trabalha ou trabalhou uma vida? O que fizemos quando se preparava a privatização da saúde e se encolhia a escola pública? O que dissemos quando banqueiros que enriqueciam à conta do Estado e de todos nós nos mandavam aguentar à imagem de um sem-abrigo? O que propusemos quando a narrativa sobre a necessidade de «honrar os compromissos» mantinha a dívida impagável e servia para dar cabo do estado social? Diremos que a melhor forma de intervenção política em 2013 consistia em ficar em casa?
«Ir um dia para a rua não chega», dirão os cépticos. Talvez não chegue. Talvez o governo não caia a seguir a esta manifestação e sejam necessárias outras. Mas o golpe que lhe desferirmos depende da nossa força na rua. «Sair à rua não basta», dirão os sisudos. Talvez não baste. Talvez seja necessário fazer cruzar e interagir o plano dos protestos ao plano das propostas. Mas é preciso ter bem claro, a este respeito, que as boas propostas só se materializarão se tiverem a suportá-las a força do protesto.
É este o segredo que será revelado a 2 de Março: o povo é quem mais ordena. Vítor Gaspar demonstrou-o de forma cristalina quando, na sequência da manifestação de 15 de Setembro, elogiou com cinismo o «melhor povo do mundo». Ele sabia que a rua faz qualquer governo tremer e que é sempre má política afrontar um rio de gente erguida. Sabia, no fundo, que isto pode ir lá com manifestações. E nisso tem razão.
Façamos um outro exercício: o que diremos a quem nos perguntar, num futuro qualquer, o que fizemos quando se cortava como nunca o rendimento de quem trabalha ou trabalhou uma vida? O que fizemos quando se preparava a privatização da saúde e se encolhia a escola pública? O que dissemos quando banqueiros que enriqueciam à conta do Estado e de todos nós nos mandavam aguentar à imagem de um sem-abrigo? O que propusemos quando a narrativa sobre a necessidade de «honrar os compromissos» mantinha a dívida impagável e servia para dar cabo do estado social? Diremos que a melhor forma de intervenção política em 2013 consistia em ficar em casa?
«Ir um dia para a rua não chega», dirão os cépticos. Talvez não chegue. Talvez o governo não caia a seguir a esta manifestação e sejam necessárias outras. Mas o golpe que lhe desferirmos depende da nossa força na rua. «Sair à rua não basta», dirão os sisudos. Talvez não baste. Talvez seja necessário fazer cruzar e interagir o plano dos protestos ao plano das propostas. Mas é preciso ter bem claro, a este respeito, que as boas propostas só se materializarão se tiverem a suportá-las a força do protesto.
É este o segredo que será revelado a 2 de Março: o povo é quem mais ordena. Vítor Gaspar demonstrou-o de forma cristalina quando, na sequência da manifestação de 15 de Setembro, elogiou com cinismo o «melhor povo do mundo». Ele sabia que a rua faz qualquer governo tremer e que é sempre má política afrontar um rio de gente erguida. Sabia, no fundo, que isto pode ir lá com manifestações. E nisso tem razão.