Lembro-me bem do dia que marcou o fim da ditadura em Portugal.
No dia 25 de Abril de 1974 era eu uma criança. Recordo que à data foi uma alegria não haver aulas, fecharam a escola e mandaram-nos para casa. Soube depois que se estava a fazer uma revolução. Como era miúda, não tinha a menor ideia da importância do momento, apenas escutava as conversas dos adultos e via as imagens das notícias que eram difundidas pela televisão.
Para mim, o que marcou o início dessa nova era foi ver «derrubarem muros», o que num sentido literal significou o derrube do muro da escola que eu frequentava e que dividia o recreio onde rapazes e raparigas não se podiam misturar. Muro esse que não teria mais que 60 centímetros de altura, mas nos impedia, às meninas, partilhar o mesmo espaço físico com os rapazes. Depois desse dia o nosso recreio passou a ter o dobro do tamanho e foi-nos permitido usufruir de um espaço que era de todos, sem limitações nem diferença de género. Foi deste modo infantil e ingénuo que senti que algo estava a mudar, que as regras eram outras.
Começava então um novo ciclo na História de Portugal com a implementação de um estado livre e democrático.
Para os que não viveram esta época e nasceram após a Revolução dos Cravos, o que acabo de descrever poderá ser pouco ou nada significante. Contudo, é bom lembrar que se hoje temos liberdade de expressão e de mobilidade, se vivemos em condições sociais semelhantes às de outros povos europeus, foi porque alguns homens e mulheres, há quase 39 anos, tiveram a coragem e a ousadia de lutar contra o sistema político vigente, ditador e fascista.
Cresci e foi com as Artes do Espectáculo que me identifiquei. Esta tem sido a minha área de trabalho, na qual me formei e profissionalizei há mais de vinte anos. Viver da minha profissão em Portugal é um verdadeiro desafio, senão um acto de coragem, que só aguenta quem realmente ama o que faz e é suficientemente louco e persistente para suportar as dificuldades inerentes a esta escolha.
Pertenço a uma classe profissional socialmente desprotegida. Nunca tive direito a protecção na doença, nem subsídios de férias ou de Natal. Sou uma trabalhadora precária, a recibos verdes, uma malabarista da vida. Uma trabalhadora intermitente, mas valente, porque não baixo os braços e me desdobro para poder sobreviver. Sim, sobreviver. Porque neste país, e agora com esta classe política, pouco mais nos é permitido.
É nesta qualidade de alguém que se diz lutadora, apartidária, que não aceita ver o seu país a definhar e que com tristeza se apercebe de como diariamente atentam contra a obra e os direitos construídos e conseguidos ao longo destas quase quatro décadas de democracia, que no dia 2 de Março vou estar presente na manifestação Que se Lixe a Troika, O Povo é Quem Mais Ordena.
Gostaria que fossemos muitos e que juntos pudéssemos lutar contra estas políticas que estão a matar o nosso país e as vidas da nossa gente. Não podemos permitir que a luta daqueles que nos legaram a democracia seja esquecida. Por eles, por nós, levantemos as vozes para gritarmos «Basta»!
No dia 25 de Abril de 1974 era eu uma criança. Recordo que à data foi uma alegria não haver aulas, fecharam a escola e mandaram-nos para casa. Soube depois que se estava a fazer uma revolução. Como era miúda, não tinha a menor ideia da importância do momento, apenas escutava as conversas dos adultos e via as imagens das notícias que eram difundidas pela televisão.
Para mim, o que marcou o início dessa nova era foi ver «derrubarem muros», o que num sentido literal significou o derrube do muro da escola que eu frequentava e que dividia o recreio onde rapazes e raparigas não se podiam misturar. Muro esse que não teria mais que 60 centímetros de altura, mas nos impedia, às meninas, partilhar o mesmo espaço físico com os rapazes. Depois desse dia o nosso recreio passou a ter o dobro do tamanho e foi-nos permitido usufruir de um espaço que era de todos, sem limitações nem diferença de género. Foi deste modo infantil e ingénuo que senti que algo estava a mudar, que as regras eram outras.
Começava então um novo ciclo na História de Portugal com a implementação de um estado livre e democrático.
Para os que não viveram esta época e nasceram após a Revolução dos Cravos, o que acabo de descrever poderá ser pouco ou nada significante. Contudo, é bom lembrar que se hoje temos liberdade de expressão e de mobilidade, se vivemos em condições sociais semelhantes às de outros povos europeus, foi porque alguns homens e mulheres, há quase 39 anos, tiveram a coragem e a ousadia de lutar contra o sistema político vigente, ditador e fascista.
Cresci e foi com as Artes do Espectáculo que me identifiquei. Esta tem sido a minha área de trabalho, na qual me formei e profissionalizei há mais de vinte anos. Viver da minha profissão em Portugal é um verdadeiro desafio, senão um acto de coragem, que só aguenta quem realmente ama o que faz e é suficientemente louco e persistente para suportar as dificuldades inerentes a esta escolha.
Pertenço a uma classe profissional socialmente desprotegida. Nunca tive direito a protecção na doença, nem subsídios de férias ou de Natal. Sou uma trabalhadora precária, a recibos verdes, uma malabarista da vida. Uma trabalhadora intermitente, mas valente, porque não baixo os braços e me desdobro para poder sobreviver. Sim, sobreviver. Porque neste país, e agora com esta classe política, pouco mais nos é permitido.
É nesta qualidade de alguém que se diz lutadora, apartidária, que não aceita ver o seu país a definhar e que com tristeza se apercebe de como diariamente atentam contra a obra e os direitos construídos e conseguidos ao longo destas quase quatro décadas de democracia, que no dia 2 de Março vou estar presente na manifestação Que se Lixe a Troika, O Povo é Quem Mais Ordena.
Gostaria que fossemos muitos e que juntos pudéssemos lutar contra estas políticas que estão a matar o nosso país e as vidas da nossa gente. Não podemos permitir que a luta daqueles que nos legaram a democracia seja esquecida. Por eles, por nós, levantemos as vozes para gritarmos «Basta»!