Sobressalto
Desinclinadas as vozes
um peixe agoniza
no duro asfalto, é um país pequeno,
está virado para as casas e esquece
que tem uma sombra para o mar. Treme-se na rua
e há pessoas a quem acontece
querer terminar a sede do espaço na boca
e do pouco ar disponível
a um coro comum.
Onde se quer, que se torne, ao interior,
à inquieta vaga na orla,
à criança antes da manhã onde faz
ainda escuro, se atenda ao múrmuro peixe,
desmanchado mas aberto arranje-
-se Portugal futuro.
(Este poema iniciou-se num exercício em torno de «O Portugal Futuro» de Ruy Belo, com Jaime Rocha e José Mário Silva, no dia da manifestação de 15 de Setembro de 2012, e foi entretanto continuado)