quinta-feira, 21 de fevereiro de 2013

Texto de Frederico Aleixo


Distopia ou democracia

Que mundo selvagem este onde nos querem impelir a aceitar uma condenação perpétua à plutocracia. O governo dos mercados e dos grandes interesses económicos. Um pesadelo assente na austeridade indefectível, inabalável e sem alternativas, onde a operacionalização do conceito de demos foi corrompida e transformada num enorme teatro onde o leque de escolhas parece agora limitado à barbárie dos números. Tudo vale, se a emissão de dívida comporta menos um ponto percentual, se o banco se mantém e se o regime vigente se eterniza. Tudo vale, como prova a crua realidade do mundo pós-subprime.
Na verdade, os factos falam por si. Será possível que a concepção de poder ascendente esteja de tal forma diluída nos anais da história, que aceitamos um triunvirato que governe e desgoverne a seu bel-prazer sem o mínimo de responsabilidade? Impingem-nos cortes, refundações e reformas sem legitimidade democrática e a sua solução é apresentada como a salvação para o busílis da dívida. Mas que dívida, se nem a apresentam? A nossa ou a do BPN, a do BPI, a do Banif e a do BCP, entre outros que verdadeiramente vivem acima das suas possibilidades e responsabilidades? Afinal de contas, quem mandatou estes burocratas do aparelho para optar por um modelo social e económico que somente origina desemprego, precariedade e pobreza? Foi assim em todas as intervenções externas que ocorreram e das quais há memória colectiva. Os beneficiários são aqueles que aparecem na lista FORBES e que aumentam as fortunas e as instituições ou organizações que duplicam o lucro com base na especulação, na crise das dívidas soberanas e nas oferendas de governos e troikas, quais deuses pagãos. Mesmo em tempo de depressão económica profunda, assinale-se.
A horizontalidade não serve só para a estrutura accionista e nenhum povo é lixo. Não houve um único cidadão nem uma única cidadã que tenham escolhido democraticamente uma sociedade onde a política se ajoelhe perante a soberba da finança privada. Temos de sair à rua no dia 2 de Março e provar a toda esta classe, qual chorrilho de ofensas à dignidade humana, que entre a distopia e a democracia há muito que fizemos uma escolha: o povo é quem mais ordena.