Foi Bertolt Brecht, servindo-se do seu alter-ego «Senhor Keuner», quem contou a história do desempregado que, em julgamento, quando lhe perguntaram se pretendia fazer um juramento laico ou religioso, respondeu que, na situação em que se encontrava, aquela questão tinha deixado de fazer sentido. Tinha, muito simplesmente, mais com que se preocupar.
Talvez os indivíduos que nos governam se fiem demasiado nesta lição e tenham entendido que, num país com um desemprego galopante como o nosso, as pessoas estão tão ocupadas em imaginar um modo de sobreviver que não terão tempo para se opor ao constante acosso de que vão sendo vítimas. Mais preocupados em assegurar, ao menos, o jantar do dia seguinte, queremos lá saber se, em 2015, ainda haverá alguma coisa a que possamos chamar nossa e que não tenha já sido entregue à grande roda dos amigalhaços instalados, a troco de férias no Copacabana Palace e lugares em conselhos de administração.
Quando, há dias, foi interrompido pela Grândola, Vila Morena num debate (chamemos-lhe assim por mera comodidade) em Vila Nova de Gaia, o urubu Miguel Relvas assinalou a saída dos manifestantes da sala com recurso ao velho adágio, segundo o qual «o povo é sereno». Menos de vinte e quatro horas depois, no ISCTE, em Lisboa, outros manifestantes conseguiram que Relvas se calasse e abandonasse o salão, recordando a quem por acaso não se lembre que, por muito sereno e paciente que seja o povo, também chega uma altura em que se lhe esgota a proverbial paciência.
A saída do rotweiller do governo do ISCTE com o rabo entre as pernas é uma coisa que dá que pensar. Desde há muito tempo que me parece claro que só existe uma forma de obrigar quem nos governa a ganhar decoro e vergonha na cara: impedindo que saiam à rua sem serem confrontados com o descontentamento daqueles que vão passando mal enquanto a banca recebe, de papo cheio, os milhões de recapitalização da troika. Se, de cada vez que põem o nariz fora da porta, escutassem a Grândola e aquele «o povo unido jamais será vencido», talvez Passos Coelho e os seus elfos vendilhões percebessem que se lhes está a acabar o tempo de saldar o que não lhes pertence.
É por isto que manifestações como a que está marcada para 2 de Março são importantes: para que a cáfila possa ver quantos somos e de que tamanho é a nossa determinação. Um dia atrás do outro, porém, é necessário que continuemos mobilizados e activos — para que, ao menos, não volte a suceder que grupos de cidadãos desçam à miséria de ir cantar as Janeiras ao indivíduo que cinicamente lhes assalta os bolsos, como servos da gleba indo prestar vassalagem ao senhor feudal.
Talvez os indivíduos que nos governam se fiem demasiado nesta lição e tenham entendido que, num país com um desemprego galopante como o nosso, as pessoas estão tão ocupadas em imaginar um modo de sobreviver que não terão tempo para se opor ao constante acosso de que vão sendo vítimas. Mais preocupados em assegurar, ao menos, o jantar do dia seguinte, queremos lá saber se, em 2015, ainda haverá alguma coisa a que possamos chamar nossa e que não tenha já sido entregue à grande roda dos amigalhaços instalados, a troco de férias no Copacabana Palace e lugares em conselhos de administração.
Quando, há dias, foi interrompido pela Grândola, Vila Morena num debate (chamemos-lhe assim por mera comodidade) em Vila Nova de Gaia, o urubu Miguel Relvas assinalou a saída dos manifestantes da sala com recurso ao velho adágio, segundo o qual «o povo é sereno». Menos de vinte e quatro horas depois, no ISCTE, em Lisboa, outros manifestantes conseguiram que Relvas se calasse e abandonasse o salão, recordando a quem por acaso não se lembre que, por muito sereno e paciente que seja o povo, também chega uma altura em que se lhe esgota a proverbial paciência.
A saída do rotweiller do governo do ISCTE com o rabo entre as pernas é uma coisa que dá que pensar. Desde há muito tempo que me parece claro que só existe uma forma de obrigar quem nos governa a ganhar decoro e vergonha na cara: impedindo que saiam à rua sem serem confrontados com o descontentamento daqueles que vão passando mal enquanto a banca recebe, de papo cheio, os milhões de recapitalização da troika. Se, de cada vez que põem o nariz fora da porta, escutassem a Grândola e aquele «o povo unido jamais será vencido», talvez Passos Coelho e os seus elfos vendilhões percebessem que se lhes está a acabar o tempo de saldar o que não lhes pertence.
É por isto que manifestações como a que está marcada para 2 de Março são importantes: para que a cáfila possa ver quantos somos e de que tamanho é a nossa determinação. Um dia atrás do outro, porém, é necessário que continuemos mobilizados e activos — para que, ao menos, não volte a suceder que grupos de cidadãos desçam à miséria de ir cantar as Janeiras ao indivíduo que cinicamente lhes assalta os bolsos, como servos da gleba indo prestar vassalagem ao senhor feudal.