Em regra, defendo que os governos eleitos devem cumprir a legislatura. Nunca fui partidário de querer derrubar governos a cada assombro de protesto. Mas a má moeda está de volta, e não há quem assuma a responsabilidade de a retirar de circulação. Para meu espanto, vejo agora muita gente temerosa de que este governo se mantenha em funções até 2015. Ora este governo está morto, e o pais não pode ser governado por um cadáver. Este governo está morto porque já ninguém — em todas as classes, da esquerda à direita —, lhe reconhece as qualificações, as qualidades, as capacidades e a decência humana e política mínimas exigíveis para ser governo. Este governo é um erro tremendo, e os que nele votaram sabem-no bem. Talvez não tenhamos grandes escolhas à nossa frente, mas arrisco dizer: tudo é melhor que isto! Teremos, no futuro próximo, de proceder a grandes alterações de regime e até, quem sabe, dar o salto em frente para uma nova República. Mas até lá, o efeito destruidor deste governo não se esgota na economia e nas finanças: pelo caminho, rasgam-se acordos, aliena-se património, salvam-se os prevaricadores, pisca-se o olho ao eleitorado mais serôdio e proclama-se a mediocridade como engenho e como desígnio para Portugal. Este governo, e os seus nomeados, não estão apenas a destruir o país: estão a destruir o nosso legado civilizacional. É urgente enterrar este cadáver, para bem dos vivos.